Da-DA, no Eixão - Segunda performance

 


    No dia 08/06/2025, realizei a segunda performance do projeto que se intitula DA-DA, no Eixão. O figurino foi concebido a partir da tensão entre trabalho e lazer que esse  espaço urbano evoca aos domingos, quando os carros silenciam e o asfalto se abre para o corpo em movimento.

   Ao propor uma performance no Eixão, evoca-se um espaço marcado por instabilidade e contradição: uma via de trânsito contínuo, construída sob os princípios de velocidade, funcionalidade e racionalismo urbano que regem o planejamento modernista de Brasília. Pensado para os carros, e não para os corpos, o Eixão materializa a lógica de uma cidade que privilegia o deslocamento mecânico em detrimento da presença sensível. 

    Inserir uma ação performática nesse território representa, portanto um gesto de ruptura: rompe-se não apenas com o uso técnico e utilitário do espaço, mas também como o ideário de uma urbanidade que desautoriza o corpo, a pausa, a escuta e o improviso. A performance, ao inscrever-se nesse não-lugar, tensiona o projeto moderno e instaura outras possibilidades de experiência urbana, poéticas, políticas e sensoriais

   Este experimento tem como objetivo investigar a relação entre a voz do ator e a paisagem sonora urbana a partir de uma ação performática situada no Eixão Norte de Brasília, na altura da quadra 310. A proposta parte do princípio de que a voz pode ser afetada, tensionada e modificada pelas camadas sonoras da cidade, assumindo os ruídos urbanos não como interferência, mas como matéria dramatúrgica. O experimento busca afinar a escuta, perceber o espaço antes de construir a cena e propor uma vocalidade que não se sobreponha ao ambiente, mas que dialogue com ele de forma sensível e crítica.
    

Justificativa estética e simbólica 

    A escolha do Eixão, não é aleatória. Trata-se de uma das estruturas mais emblemáticas da lógica modernista da cidade, planejada para o deslocamento rápido de veículos, e não para o corpo que caminha ou permanece. Ao propor uma ação cênica nesse espaço, o experimento instala um corpo que pausa, escuta e resiste: deitado no chão do Eixão, pequeno diante da escala monumental da cidade, o ator subverte a função original do espaço. A performance emerge, então, como um gesto político e poético, em que a voz, entre o grito e o sussurro, se torna índice de presença, fragilidade e enfretamento frente ao ruído urbano e à lógica produtivista da cidade.  

Etapas e Procedimentos
  1. Visita técnica e escuta ativa: A primeira etapa consiste na realização de visitas técnicas ao local da performance, com os seguintes objetivos:
  • Percorrer a área e escolher o ponto exato da ação: que será na altura da região 310 norte
  • Registrar o ambiente com gravador e celular com microfone externo, captando sons da cidade, ruídos de carros, vozes humanas, passagens de vento, buzinas e camadas imprevisíveis do espaço
  • Realizar registros visuais como fotos e vídeos que capturam a arquitetura, os vazios, os fluxos, as colunas, o concreto e a pulsação do lugar
  • Produzir uma escuta reflexiva posterior, identificando as texturas sonoras presentes no ambiente, reconhecendo possíveis repetições, silêncios, interrupções e composições involuntárias da cidade
  • Registrar impressões e hipóteses no diário de bordo digital Blogger, que serve como arquivo-processo 
     2. Composição da cena e gravações

  A cena será construída a partir de variações vocais inspiradas nos princípios da poesia DADA, desconstrução da palavra, ênfase na sonoridade, uso do absurdo e da repetição. O corpo e a voz do ator estarão disponíveis á escuta e ao risco do ambiente.

   A performance será registrada em um plano-sequência que organiza, em camadas visuais e sonoras, a relação entre a cidade e o corpo vocal do ator. Toda a ação se passa com o ator deitado no chão do Eixão Norte, imóvel em sua posição inicial, enquanto a câmera percorre uma trajetória narrativa e sensorial que vai da paisagem à carne.

    A proposta parte da ideia de que o espaço urbano não é apenas "fundo" da ação, mas sim coautor da cena, seus ruídos, sua escala, sua pulsação atravessam o corpo do ator e influenciam diretamente a construção da vocalidade.

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