Performance Rodoviária, Corpo Inteiro: Rodoviária de Ecos

 

    No dia 11/06/2025, realizei a performance Corpo Inteiro: Rodoviária de Ecos, por volta das 18:30. Utilizei duas câmeras para  a gravação, todavia nessa câmera de contra plano, o som saiu completamente metalizado devido alguma interferência entre câmera e microfone. A segunda câmera (frontal), o som está muito bom, todavia não utilizei nesse recorte.

    Este experimento performativo investiga a relação entre corpo, voz e paisagem sonora urbana a partir de uma dramaturgia da ausência vocal. Inspirado pela obra 4'33" de John Cage, onde o silêncio revela o som ambiente como composição, este gesto propõe deslocar a centralidade da voz para uma escuta horizontal. Aqui, o corpo do ator se apresenta em estado de prontidão vocal, tensionando o momento do enunciado, mas deixando tudo em suspensão. A voz nãos e realiza. O som vem da cidade.

Inspiração e provocação estética 

      Inspirado na peça performática 4'33, de John Cage, que desloca o centro da atenção auditiva para o ambiente e valoriza o silêncio como potência compositiva, este experimento parte do gesto vocal da não vocalização: um corpo em estado de emissão suspensa, que respira, prepara a fala, mas não emite som. A voz se torna latência, ausência expressiva, buraco sonoro que convoca a escuta. Trata-se de uma presença vocal sem voz, em que o silêncio não é vazio.

Intenção dramatúrgica

       A performance constrói uma ilusão de espetáculo. O ator se posiciona com um microfone  em mãos, sobre um banco ou estrutura que simula um palco improvisado na Rodoviária do Plano Piloto. O ambiente sonoro é denso: ruídos de motores, passos apressados, anúncios, buzinas, vendedores. Tudo colabora para um clima de espera e distração. quando o ator abre a boca para vocalizar, e não o faz, instala-se o vazio, o desconcerto. O silêncio não é ausência, mas provocação. O corpo torna-se vetor de escuta. A cidade, em sua cacofonia pulsante, emerge como verdadeira performer.

      O ator permanece imóvel, de boca aberta, respirando, sustentando um gesto vocal interrompido. Ao final, realiza um breve gesto de agradecimento, como quem encerra um espetáculo. o som que não aconteceu torna-se o que mais reverbera.

Local: Rodoviária do Plano Piloto, Brasília

     A performance acontece na Rodoviária do Plano Piloto, centro nervoso da capital, lugar onde se cruzam temporalidades, classes, deslocamentos, anúncios, ambulantes, buzinas, passos, alarmes, engarrafamento de carros e pessoas, sotaques. Ao escolher esse lugar, a ação performativa se posiciona em confronto (ou escuta) a essa pulsação contínua, questionando se é possível performar o silêncio em um lugar que nunca se cala.

Dispositivo performativo

  • O ator se posiciona em pé, no centro de um fluxo intenso de pessoas
  •  Permanece imóvel, com o corpo ativado e a boca entreaberta, em estado de emissão suspensa.
  • O gesto de abrir a boca sem vocalizar propõe um som que não vem, um quase grito de um quase sussurro
  • Ao fim do tempo, o ator fecha lentamente a boca, agradece com um gesto simples, e se retira.
Documentação e análise

       O experimento será registrado em vídeo e áudio, com câmera fixa e microfone de alta sensibilidade. Os materiais servirão para posterior análise no diário de bordo, onde serão observadas:
  • as relações do público
  • as camadas sonoras captadas no tempo da performance
  • e a potência dramatúrgica do silêncio como provocação vocal e política.
    Este trabalho aprofunda o princípio de coextensão entre corpo, voz e cidade, abrindo caminho para pensar uma dramaturgia da escuta, onde a performance é o som que o ator não emite, mas que ele permite acontecer.

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